Intervenção precoce

Efeito do tratamento da obesidade pediátrica na saúde a longo prazo

Evidências de longo prazo e a importância de intervenções precoces

Autor/a: Putri RR, Danielsson P, Ekström N, et al.

Fuente: JAMA Pediatr. 2025;179(3):302–309. doi:10.1001/jamapediatrics.2024.5552 Effect of Pediatric Obesity Treatment on Long-Term Health.

A obesidade infantil atingiu proporções epidêmicas globalmente. Estima-se, que até 2035, a sua prevalência global anos seja de 18% entre meninas e 20% entre meninos. Essa enfermidade está associada à hipertensão, doença hepática esteatótica, resistência à insulina e problemas psicossociais. Além gerar maior risco de problemas de saúde na idade adulta em comparação com aqueles com peso saudável.

A resposta benéfica aos tratamentos de obesidade de estilo de vida comportamental em crianças e adolescentes melhora a saúde a curto e longo prazo. Em adolescentes, tanto a cirurgia bariátrica quanto a farmacoterapia demonstraram reduzir o grau de obesidade quando a intervenção no estilo de vida por si só se mostra insuficiente. No entanto, os resultados relacionados à obesidade a longo prazo ainda precisam ser determinados.

Por isso, Putri e colaboradores (2025) realizaram um estudo com o objetivo de avaliar o impacto da resposta ao tratamento da obesidade pediátrica nos resultados relacionados à obesidade e na mortalidade na idade adulta jovem.

Para isso, foi realizado um estudo de coorte prospectiva dinâmica de crianças e adolescentes com obesidade dentro do Registro Sueco de Tratamento de Obesidade Infantil (BORIS). Os dados de base foram coletados entre 1996 e 2019. As análises formais foram conduzidas em 2023. Os resultados foram avaliados em indivíduos de 18 a 30 anos (2005 a 2020). Os participantes incluíram crianças e adolescentes de 6 a 17 anos que receberam pelo menos 1 ano de tratamento para obesidade. Os comparadores da população em geral foram pareados em uma proporção de 1:5 em sexo, ano de nascimento e área geográfica.

A resposta ao tratamento da obesidade pediátrica foi baseada em mudanças na pontuação do desvio padrão do índice de massa corporal e categorizada como resposta ruim, intermediária e boa e remissão da obesidade. O principal desfecho foi eventos relacionados à obesidade, como diabetes tipo 2 (DT2), dislipidemia, hipertensão, depressão ou ansiedade e cirurgia bariátrica para perda de peso. Além disso, a mortalidade foi avaliada.

No total, foram incluídos 6.713 participantes (56,3% homens e 43,7% mulheres). No início do tratamento, a idade mediana era de 12,1 (10,1; 14,3) anos e o desvio padrão do IMC foi de 2,82 (2,56; 3,14). A duração mediana de tratamento foi de 3,0 (1,8; 4,9) anos. As categorias de resposta ao tratamento incluíram ruim (n = 1224), intermediária (n = 2913), resposta (n = 1070) e remissão da obesidade (n = 1506).

A associação entre a eficácia do tratamento da obesidade e cada resultado da doença não diferiu pelo grau inicial de obesidade. Na coorte BORIS, 113 indivíduos desenvolveram DT2 durante o acompanhamento, com uma idade mediana de 22,2 (20,0; 25,2) anos. Resposta intermediária, boa e remissão da obesidade foram associadas a um risco reduzido de desenvolver DT2 em comparação com a ruim, para a qual o grau da resposta ao tratamento foi relacionado à magnitude da redução do risco.

Ademais, 216 indivíduos desenvolveram hipertensão durante o acompanhamento, com uma idade mediana de 23,4 (20,6; 26,3) anos. Comparado com o grupo de resposta ruim, um risco menor de hipertensão foi observado no grupo de remissão da obesidade, mas não no grupo de boa resposta ou intermediária.

Na coorte, 66 indivíduos desenvolveram dislipidemia durante o acompanhamento, em uma idade mediana de 22,5 (20,0; 26,2) anos. Comparado com o grupo de resposta ruim, um risco menor de dislipidemia foi observado tanto na remissão da obesidade quanto de boa resposta.

Depressão ou ansiedade foram identificadas em 1915 indivíduos na coorte BORIS com uma idade mediana no início de 19,5 (18,3, 20,2) anos. Embora uma tendência de menor taxa dessas doenças com melhor resposta ao tratamento tenha sido indicada, a eficácia do tratamento da obesidade não foi associada ao risco de depressão ou ansiedade na idade adulta jovem na análise ajustada.

Além disso, um total de 21 mortes ocorreram na coorte, com uma idade média de 23,6 (19,8; 25,0) anos. Comparado com o grupo de resposta ruim, um risco menor de mortalidade prematura foi observado tanto no de resposta intermediária quanto no combinado de remissão obesidade e boa resposta.

Por fim, 330 indivíduos sofreram uma fratura durante o acompanhamento, com uma idade média de 20,5 (18,9; 23,1) anos. Não houve associação entre a eficácia do tratamento da obesidade e fraturas.

Em conclusão, o estudo forneceu evidências convincentes de que a resposta benéfica ao tratamento da obesidade pediátrica pode reduzir o risco de morbidades cardiometabólicas na idade adulta jovem. As maiores reduções de risco foram demonstradas naqueles que experimentaram remissão da obesidade durante a infância. No entanto, o tratamento eficaz da obesidade não atenua o risco de longo prazo de depressão ou ansiedade.