Transtornos que nos afetam em gastroenterologia
Escolhemos este título para definir um conjunto específico de condições difíceis de gerenciar. De acordo com o Dicionário da Royal Academy, um distúrbio é definido como uma "ligeira alteração da saúde" e o verbo perturbar significa "perturbar ou remover a tranquilidade ou a calma". Os médicos muitas vezes ficam incomodados com essas condições que, por não serem graves, alteram muito o paciente e representam um motivo frequente de consulta. Em muitos casos, carecemos de um tratamento eficaz e a bibliografia é insuficiente para nos ajudar. O objetivo deste guia é saber até onde avançamos no estudo e tratamento dessas doenças, o que os especialistas pensam e o que a medicina baseada em evidências contribui.
Índice da série:
- Estomatite aftosa recorrente
- Síndrome da boca ardente
- Prurido anal
- Soluços persistentes
- Dor anorretal funcional
- Arroto excessivo
- Globus Pharynx
- Halitose
Em cada um deles faremos uma introdução onde resumiremos os fundamentos do conhecimento médico atual e os tratamentos habitualmente recomendados. A seguir, nos aprofundaremos na literatura recomendada e no que a medicina baseada em evidências informa quando estiver disponível.
Prurido anal |
O prurido anal é definido como um prurido intenso e crônico que envolve a pele perianal. Afeta 1-5% da população e varia de leve a grave. Quando é grave e persistente, chegando a ponto de o paciente ter que se afastar para não se coçar em público, afeta significativamente a qualidade de vida e pode levar à síndrome depressiva.
É classificado como idiopático quando nenhuma lesão concomitante é encontrada. No entanto, como em 75% dos casos, alguma patologia simultânea é encontrada, uma história detalhada e um exame completo são necessários antes de incluí-la nesta categoria.
Uma grande quantidade de causas possíveis foi relatada, mas as mais comuns são anorretais, especialmente hemorróidas e fissuras. O tratamento depende do interesse do médico por essa condição pouco atraente, da qual os pacientes costumam ficar constrangidos.
Epidemiologia |
Predomina entre a quarta e sexta década de vida e é 4 vezes mais frequente no sexo masculino.
Etiopatogenia |
Na maioria dos casos, não é identificada a causa responsável pelo problema, podendo-se dizer que sua origem é idiopática em 50-90% dos casos. Quase sempre há um ciclo vicioso entre coceira e coceira que gera lesões que exacerbam a coceira.
Uma causa importante é a contaminação fecal da pele perianal. Isso não é apenas de origem higiênica e também não é inevitável. A contaminação fecal pode ser óbvia ou oculta. A “sujeira” oculta pode ser insuficiente para que o paciente perceba, mas suficiente para causar coceira e coceira, causando o círculo vicioso descrito.
Há estudos que relatam que pacientes que sofrem de prurido anal tendem a apresentar fezes relatáveis, sendo rara a constipação.
Embora ocorra na minoria dos casos, infecções bacterianas, fúngicas ou mesmo oxiuríase também devem ser levadas em consideração. A infecção fúngica é responsável por 15% do prurido anal. Dermatofitose ou micose também devem ser consideradas.
A Candida, embora seja um comensal conhecido, torna-se patogênica em diabéticos ou após o tratamento com antibióticos ou corticosteroides. A dermatite de contato alérgica pode ser causada por alguns sabonetes, lenços umedecidos e papel higiênico tingido.
Algumas condições dermatológicas, como a psoríase, podem se apresentar de forma perianal localizada. O mesmo pode ser dito do líquen e das doenças de Bowen e Paget.
Tratamento |
As condições dermatológicas devem ser tratadas pelo especialista correspondente. O paciente deve ser informado sobre a natureza crônica do distúrbio, não apenas para reduzir as expectativas de cura rápida, mas também para melhorar a aceitação do conselho dado.
A gestão consiste em três aspectos que funcionam em paralelo:
- Evitar os irritantes e a coceira
Medidas de eliminação: possíveis irritantes como coçar, cremes, sabonetes, banhos de espuma, papel higiênico, lenços umedecidos e certos alimentos e bebidas (Tabela 1) devem ser evitados
Mais comuns
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Outros
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A roupa íntima não precisa ser justa e deve ser de algodão, evitando-se fibras sintéticas. Detergentes perfumados não serão usados para lavá-lo.
2. Medidas gerais de controle:
A área deve ser lavada com bidê ou ducha, sem uso excessivo de água e evitando o uso de sabonete, certificando-se de que após a lavagem a região perineal esteja bem seca, mas evitando esfregar, recorrendo se necessário a um secador de cabelo à temperatura baixa. Alguns pacientes têm bons resultados usando uma pequena bola de algodão para manter a área seca.
Embora as parasitoses sejam mais comuns em crianças, vale a pena investigar a presença de oxiúros com o teste de Graham.
As unhas devem ser cortadas rente à medida que a coceira piora à noite com o calor da cama e o paciente pode coçar durante o sono, mantendo o círculo de coceira.
3. Tratamento ativo
A patologia local deve ser investigada e tratada. Todas as dermatofitoses (micose) devem ser tratadas com aplicações tópicas de imidazol ou terbinafina.
O estreptococo ß -hemolítico, o E. aureus e o Corynobacterium minutissimum devem ser eliminados com antibióticos tópicos, como o ácido fusidílico.
Se o paciente não estiver constipado, o vazamento fecal pode ser reduzido pela adição de fibra ou psyllium à dieta, junto com a loperamida.
A resposta a um anti-histamínico por via oral também pode ser testada. Sintomas leves a moderados podem ser tratados com um creme esteróide tópico em baixas concentrações, como hidrocortisona a 1% aplicada pela manhã e à noite após a lavagem. Nos casos refratários, a tatuagem com capsaicina e azul de metileno tem sido usada.
Leitura recomendada |
Siddiqi S, Vijay V, Ward M, Mahendran R y Warren S. Pruritus ani. Ann R Coll Surg Engl 2008: 457 – 463