Introdução |
Após um quadro de síndrome coronariana aguda (SCA), o tratamento deve ser focado na melhora da saúde global e do estado funcional. A depressão é um dos fatores determinantes para a qualidade de vida (QV) desses pacientes.2 Entre 15 a 27% destes apresentam transtorno depressivo maior (TDM) após um quadro de SCA.
O tratamento da depressão pode ter efeitos benéficos sobre a QV. Nesse sentido, poucos estudos avaliaram essa relação em pacientes com SCA, e os que o fizeram apresentaram resultados conflitantes.4-7
O objetivo do estudo desenvolvido por JM e colaboradores (2015) foi avaliar os efeitos do tratamento com escitalopram sobre a depressão e a QV em pacientes com SCA.8
Eficácia |
Foi realizada uma análise a partir dos dados de um grande estudo naturalístico de pacientes com SCA (Korean Depression in ACS [K-DEPACS]) e de um estudo clínico randomizado e controlado com os pacientes com transtorno depressivo ( Escitalopram for Depression in ACS [EsDEPACS]).8
O estudo naturalístico K-DEPACS incluiu 1.152 pacientes com SCA que foram avaliados para sintomas depressivos pelo Inventário de Depressão de Beck (BDI) (Beck 61), no momento da internação hospitalar, após duas semanas e, então, a cada quatro semanas por 12 semanas e, após, com um ano. Foram considerados portadores de sintomas depressivos aqueles com pontuação BDI > 10. Também foi utilizada a Minientrevista Neuropsiquiátrica Internacional (MINI).8
O estudo EsDEPACS incluiu 300 indivíduos com diagnóstico de transtorno depressivo maior ou menor, que foram randomizados para receber escitalopram ou placebo. O grupo que recebeu o medicamento foi superior ao controle nos desfechos primários e secundários.9 Os pacientes foram avaliados no início do estudo e a cada quatro semanas até a semana 24. Foi utilizada dose inicial de 10 mg/dia (5 mg/dia se idade ≥ 65 anos e disfunção hepática). A dose pôde ser alterada para 5 ou 20 mg/dia conforme resposta e tolerabilidade.8
A QV foi avaliada pelo formulário abreviado de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-BREF). Essa escala avalia quatro domínios, relacionados a fatores físicos, psicológicos, relações sociais e contexto ambiental.8
Resultados |
Os pacientes do estudo K-DEPACS foram divididos em quatro grupos: “sem depressão” (n = 706), “depressão em tratamento com escitalopram” (n = 149), “depressão em tratamento habitual” (n = 146) e “depressão em uso de placebo” (n = 151). Desses pacientes, 828 corresponderam à amostra analisada (504 “sem depressão”; 111 “com depressão em tratamento habitual”; 107 “com depressão em tratamento com escitalopram” e 106 “com depressão em uso de placebo”). Os demais pacientes foram excluídos por perda de seguimento, recusa em participar, óbito ou mal estado geral.8
Os pacientes do grupo “sem depressão” apresentaram proporção significativamente maior de homens e tabagistas. Os grupos “escitalopram” e “placebo” apresentaram pontuação BDI significativamente maior, além de mais alta prevalência de transtorno depressivo maior (TDM) em comparação ao grupo “com depressão em tratamento habitual”. A pontuação WHOQOL-BREF basal foi semelhante nos quatro grupos.8
Dos 300 pacientes do EsDEPACS, 83 (28%) saíram do estudo após seu início, sendo que os 217 restantes (108 “escitalopram” e 109 “placebo”) formaram a amostra analisada. Não houve diferenças significativas entre as características basais de ambos os grupos. Também não houve diferença entre os grupos quanto às taxas de suspensão do tratamento e o uso de medicamentos concomitantes. A dose do escitalopram na última visita foi de 7,6 ± 3,7 mg.8
Houve melhora mais acentuada em todos os domínios da escala WHOQOL-BREF (físico, p < 0,001; social, p = 0,004 e ambiental, p < 0,001) no grupo “escitalopram”, em comparação ao grupo “placebo”, após ajuste para as pontuações basais e covariáveis (Figura 1).8
Figura 1. Pontuação nos três domínios da Escala WHOQOL-BREF de qualidade de vida durante as 24 semanas de tratamento duplo-cego com escitalopram ou placebo (Adaptado de Kim JM, et al;2011)8.
Conclusão |
O tratamento do transtorno depressivo com escitalopram em pacientes com SCA recente promove melhora da qualidade de vida em todos os seus domínios.
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