Atualização

Dermatoses parasitárias

São infecções cutâneas causadas por insetos, vermes, protozoários ou celenterados que tenham vida parasitária ou não

Autor/a: Cardoso et al.,

Fuente: Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 95, n. 1, p. 1-14, 2020 Atualização em dermatoses parasitárias

Escabiose

É causada por um ácaro, o Sarcoptes scabiei var. hominis. Sua transmissão se dá por contato pessoal, mas pode também ocorrer, excepcionalmente, por fômites.

O principal sintoma é o prurido, sendo mais intenso à noite. Geralmente começa de maneira insidiosa, intensificando-se e acometendo quase o corpo todo, mas raramente a face é afetada.

Não é comum a escabiose do couro cabeludo, mas pode acompanhar à dermatite seborreica.

Quando os pacientes apresentam longa evolução, podem-se observar lesões pápulo‐nodulares, de coloração vermelho‐acastanhada, localizadas principalmente na genitália, nas axilas, no tronco e nos cotovelos. Essa são pruriginosas e regridem lentamente, mesmo após tratamento adequado, podendo ser denominadas como sarna ou escabiose nodular.

A face e o couro cabeludo podem ser acometidos em crianças e recém-nascidos, até com o aparecimento de micropoliadenopatias cervicais. Lesões eczematizadas ou urticadas podem dificultar o diagnóstico, principalmente em lactentes.

Em idosos, a reação cutânea pode ser menor, ocasionando quadros atípicos.

Em pacientes imunodeprimidos, pode-se observar a hiperinfecção de ácaros,  caracterizada clinicamente por lesões hiperceratósicas, crostosas, com fissuras cutâneas, unhas espessadas e distróficas.

Para o diagnóstico, diferentes métodos podem ser usados: exame direto das lesões, reação em cadeia da polimerase (PCR), dermatoscopia, microscopia confocal e tomografia de coerência óptica.

No tratamento, é importante que todos os moradores do domicílio recebam terapia para evitar reinfestações. Dentre as opções farmacológicas, pode-se citar: permetrina, enxofre precipitado e ivermectina.

Pediculose

Os humanos podem ser infestados por três espécies da subordem Anoplura: Pediculus humanus capitis, que causa a pediculose do couro cabeludo; Pediculus humanus corporis, que infesta o corpo; e Pthirus pubis, conhecido como piolho da região pubiana.

> Pediculus humanus capitis

A saliva do piolho é provavelmente o indutor do prurido. A lâmpada de Wood e o dermatoscópio podem ser usados no auxílio ao diagnóstico.

Os pediculocidas tópicos, como ivermectina, permanecem como principal tratamento.

Pediculus humanus

Apresenta uma coceira de intensidade variável, com máculas eritematosas, pápulas, crostas e escoriações, observadas principalmente no tronco, nas axilas e nádegas. O diagnóstico pode ser confirmado pelo achado dos pendículos ou lêndeas nas pregas das roupas.

A melhora nas condições de higiene e lavagem de roupas são as terapias para a doença.

Pthirus pubis

A principal manifestação clínica é o prurido. O diagnóstico pode ser feito ao encontrar o parasita na pele ou nas lêndeas presas nos pelos.

Os tratamentos principais são permetrina a 5% ou deltametrina a 0,02%, em creme, aplicados à noite. Caso a doença acometa os cílios, pode-se utilizar vaselina.

Dermatoses causadas por pulgas ou pulicose

Em indivíduos não sensibilizados, as picadas provocam pápulas urticadas. Nos sensibilizados, o antígeno salivar pode causar lesões, ocasionando o prurido agudo infantil e o de Hebra.

É importante notar também que algumas bactérias transmitidas por esses parasitas podem causar doenças, como angiomatose bacilar.

Para a terapia, são indicados cremes de corticoide e, se necessário, anti-histamínicos. Deve-se indicar inseticidas e cuidar dos animais domésticos para eliminar as pulgas como profilaxia.

Tungíase ou tunguíase

Ocasionada pela Tunga penetrans. Seus principais hospedeiros são o porco e o homem.

A doença é caracterizada pelo prurido e, eventualmente, dor. São encontrados nas pregas ungueais dos dedos dos pés, espaços interdigitais e regiões plantares. Quando ocorrem muitas lesões próximas dão o aspecto de favo de mel.

Para o tratamento, a pulga é retirada com a agulha e aplica-se antisséptico no ferimento. A profilaxia é realizada por meio do uso de calçados.

Cimicidíase

Todos os cimicídeos (percevejos) são parasitas sugadores de sangue de aves e mamíferos. Os do gênero Cimex, também chamados bed bugs, conseguem parasitar os seres humanos.  Picam geralmente à noite, principalmente na face, pescoço, braços e mãos. Provocam lesões urticadas, pruriginosas, em disposição linear.

O tratamento é feito à base de creme de corticoide, mas pode-se usar um anti-histamínico, se necessário. O uso de inseticidas é recomendado como profilaxia.

Miíase

Quando as larvas invadem tecidos sadios, também chamadas de miíase furunculoide, pode-se formar uma lesão eritêmato‐papulosa, pruriginosa, dolorosa no local de entrada das larvas. Essa pode aumentar de tamanho, evoluindo para o aspecto de furunculoide, com pequena ulceração e saída de exsudato seroso.  Ao pressionar a lesão, pode-se observar a larva. Devido à sua movimentação, os pacientes referem a “dor em ferroada” no local. O tratamento consiste na remoção da larva.

Já na miíase secundária, quando as moscas colocam os ovos sobre ferimentos cutâneos ou nas mucosas, as larvas são facilmente visualizadas, fazendo com que o diagnóstico seja clínico. O tratamento é feito com a retirada das larvas, após aplicação de éter.

Demodecidose

Causada pelo Demodex folliculorum, ácaros com predileção por áreas com grande produção sebácea, como face e tórax.

Em indivíduos imunodeprimidos, observam-se erupções papulosas ou pápulo‐pustulosas na face, tronco e membros. O tratamento é feito com ivermectina ou metronidazol.

Larva migrans cutânea

O Ancylostoma brasiliensis é o agente etiológico mais frequente, no entanto o A. caninum, Uncinaria, Bunostomum e Phebotumum stenocephala também podem ocasionar a doença. É adquirida através do contato com areia ou solo contaminado com fezes de cães e gatos.

As lesões, em geral, são lineares, salientes, eritematosas e serpiginosas. Também podem surgir vesículas e bolhas. As áreas mais afetadas são pés, pernas e nádegas. O deslocamento das larvas desencadeia prurido intenso.

Quando o número de lesões for reduzido, pode-se utilizadas pomada de tiabendazol a 5%. Em pacientes com múltiplas lesões ou acometimento de áreas hiperceratósicas, recomenda-se o uso de tratamento sistêmico.

Doença de Lyme

É transmitida por carrapatos, principalmente do gênero Ixodes. As manifestações cutâneas podem ser divididas em localizadas, iniciais, disseminadas e tardias.

O eritema migratório (EM) é a principal manifestação clínica inicial da doença. No local da picada, pode aparecer uma pápula ou uma pequena placa eritematosa que aumenta de tamanho, formando placa com bordas descontínuas e centro claro, cianótico e/ou descamativo. Em grande parte dos pacientes, as lesões são assintomáticas.

Outra manifestação é o linfocitoma cutis, que simula pseudolinfoma de linfócitos B. Caracterizado clinicamente por nódulo ou placa eritematosa, única, de um a cinco centímetros de diâmetro, localizado, geralmente, em face, pavilhão auricular, bolsa escrotal ou aréola mamária.

Na fase aguda, pode ter outras manifestações, como astenia, artralgia, mialgia, rash cutâneo, adenopatia, esplenomegalia e sinais de irritação meníngea. Na fase tardia, destaca-se acrodermatite crônica, também denominada acrodermatite crônica atrófica (ACA) ou doença de Pick‐Herxheimer.

Infecção por Borrelia

Diversas doenças dermatológicas foram associadas à B. burgdorferi, como esclerodermia em placa, líquen escleroso, atrofodermia de Pasini‐Pierini, linfoma de células B cutâneo e granuloma anular.

O diagnóstico é feito nos aspectos epidemiológicos, clínicos e laboratoriais. Fundamenta-se nos testes sorológicos e/ou no encontro do agente etiológico. Além desse, pode-se também fazer o exame histopatológico, imuno-histoquímico e PCR.  O tratamento é feito de acordo com o estágio e a manifestação clínica.

Oncocercose

É uma doença parasitária crônica, não contagiosa, caracterizada pela presença de lesões cutâneas e oftalmológicas. É causada pelo Onchocerca volvulus.

A manifestação clínica mais comum é o prurido crônico, constante, pode simular escabiose. Áreas com escoriações, liquenificação e hiperpigmentação são frequentes. Esse quadro é conhecido como lizard skin (pele de lagarto).

Pode ocorrer também a despigmentação tardia e acromia. A atrofia pode ocorrer nas fases tardias, ocasionando o aumento da bolsa escrotal e da hérnia inguinal. Os oncocercomas são indolores, de consistência firme, arredondados ou alongados e apresentam tamanho variável. Em pacientes africanos, geralmente, localizam-se na pelve, nas faces laterais do tórax e nos membros inferiores. Nas américas, são observados no couro cabeludo, braço e tórax.

O diagnóstico é feito através do exame direto, o qual observa as microfilárias ou os vermes adultos. O principal tratamento é a ivermectina.