Eixo intestino-pele

Papel da microbiota da pele e do microbioma intestinal na rosácea

Associação entre a rosácea, a microbiota da pele e a microbiota gastrointestinal

Introdução

A rosácea é uma condição cutânea inflamatória crônica que afeta principalmente a face, incluindo bochechas, nariz, queixo, testa e olhos. Existem quatro subtipos da doença: eritematotelangiectásica, papulopustular, fimatosa e ocular. Sua patogênese envolve fatores genéticos e ambientais, e vários gatilhos podem desencadear crises, como mudanças de temperatura, exposição ao calor, frio, exercícios, radiação ultravioleta, alimentos picantes e álcool.

A microbiota da pele desempenha um papel importante na regulação da inflamação e das respostas imunológicas. Estudos sugeriram que tanto os microrganismos da pele quanto os do intestino podem influenciar a função da barreira imunológica da pele. Por esta razão, Zhu e colaboradores (2023) realizaram uma revisão das espécies bacterianas comuns na microbiota da pele e microbiota intestinal de pacientes com rosácea, como Demodex folliculorum, Staphylococcus epidermidis, Bacillus oleronius, Cutibacterium acnes e Helicobacter pylori, e identificaram seu papel na patogênese. Além disso, revisaram sistematicamente os métodos de tratamento clínico comumente utilizados, incluindo antibióticos, probióticos, bem como seu mecanismo de tratamento e precauções de aplicação.

Microbioma da pele de pacientes com rosácea

O microbioma da pele é crucial para manter uma função imunológica eficaz. Pesquisadores identificaram vários micróbios como potenciais contribuintes para o desenvolvimento da rosácea, incluindo Demodex folliculorum, Staphylococcus epidermidis, Bacillus oleronius e Cutibacterium acnes. A sua composição varia com a idade, sexo, fatores ambientais e uso de cosméticos e antibióticos.

Existem diferenças na patogênese das pápulas e pústulas entre acne e rosácea, que são influenciadas pela idade e afetam o microbioma da pele. Estudos sugeriram que a gravidade da doença aumenta com a idade, e cepas de Staphylococcus epidermidis isoladas da produzem mais proteínas a 37°C do que a 30°C. Sendo assim, mudanças repentinas de temperatura podem agravar os sintomas da rosácea.

A pesquisa também sugeriu que o calor pode aumentar a mobilidade e a sobrevivência dos ácaros Demodex, o que pode explicar por que esse fator contribui para o agravamento da doença. Portanto, é provável que a temperatura da pele influencie a atividade de outros micro-organismos, como bactérias aeróbicas e anaeróbicas e ácaros Demodex.

Microbiota intestinal de pacientes com rosácea

O intestino humano, assim como a pele, abriga inúmeros micróbios. Espécies bacterianas intestinais como LactobacillusEscherichia coliBifidobacterium e Streptococcus thermophilus ajudam a manter a saúde humana, enquanto outras têm maior probabilidade de causar doenças, como Clostridium difficileCampylobacterEnterococcus faecalis, e Helicobacter pylori.

H. pylori é uma bactéria que pode causar infecções persistentes difíceis de erradicar, afetando mais da metade da população mundial. A sua infecção pode resultar na produção de citotoxinas, levando à inflamação da mucosa gástrica e afetando processos fisiológicos como vasodilatação, inflamação e regulação imunológica. Além disso, a soropositividade para H. pylori está associada à rosácea, possivelmente devido à atividade de citotoxinas e gastrina, embora outros mecanismos também tenham sido propostos, incluindo um possível mecanismo autoimune.

Estudos também sugeriram uma ligação entre a rosácea e o crescimento excessivo de várias bactérias no intestino delgado. Um conceito recente chamado eixo intestino-pele propõe que a saúde gastrointestinal influencie a homeostase e a alostase da pele por meio de interações complexas entre o sistema imunológico, metabólico e nervoso. Além disso, estudos sobre a composição da microbiota intestinal em pacientes com rosácea mostraram diferenças significativas em relação aos grupos controle. Embora haja um debate em curso sobre o impacto das doenças digestivas na rosácea, alguns estudos sugeriram que o supercrescimento bacteriano intestinal, a síndrome do intestino irritável e a doença inflamatória intestinal crônica podem ser mais comuns nesses.

Impactos dos tratamentos no microbioma cutâneo e intestinal

Muitos dermatologistas usam antibióticos para tratar pacientes com rosácea que têm pápulas e pústulas. Os sistêmicos são recomendados para casos mais graves. A tetraciclina, por exemplo, tem vários efeitos, incluindo atividade antibacteriana e anti-inflamatória, mas não está claro qual é o principal mecanismo de ação contra pápulas e pústulas. Estudos sugeriram que desequilíbrios na microbiota intestinal podem causar doenças inflamatórias da pele.

Tanto a minociclina quanto a doxiciclina têm sido eficazes no tratamento da rosácea. O primeiro é usado para tratar infecções de pele, mas pode causar infecções virais do trato respiratório superior. O segundo não parece afetar a diversidade do microbioma da pele ou intestinal. Estudos mostraram que a doxiciclina reduziu a gravidade da rosácea e o número de pápulas ou pústulas inflamatórias. O gel de metronidazol a 0,75% pode ser usado como tratamento tópico de primeira linha. Estudos mostraram melhorias significativas nas lesões inflamatórias e no eritema. O fármaco reduziu a produção de espécies reativas de oxigênio, ajudando na doença. A ivermectina tópica a 1% reduziu a densidade do ácaro Demodex, com efeitos significativos na rosácea. Outros tratamentos, como permetrina tópica, benzoato de benzila e crotamina, também afetam os ácaros Demodex.

Ainda assim, o uso prolongado de antibióticos pode levar a cepas resistentes e outros problemas. Embora sejam eficazes no tratamento da rosácea, os compostos de enxofre podem alterar a microbiota facial e intestinal, mas não está claro se isso é eficaz no tratamento da doença.

O tratamento com probióticos orais podem regular a microfora intestinal e afetar indiretamente as condições cutâneas. Por exemplo, o TLR2 pode ser regulado positivamente na rosácea e pode ser um possível alvo para probióticos. Por isto, o consumo de Bifidobactérias e Lactobacillus para afetar o intestino também podem ser usados para tratar certas doenças cutâneas.

Conclusão

A pele humana é um ambiente propício para o crescimento de bactérias, tanto benéficas quanto patogênicas. Estudos demonstraram uma associação entre a rosácea e distúrbios no microbioma da pele e do intestino. Por isso, o tratamento dermatológico com antibióticos ou modulação do microbioma tem sido uma estratégia atraente. Investigar as alterações na microbiota da pele e do intestino nesses pacientes pode fornecer uma melhor compreensão do desenvolvimento e prognóstico da doença. No entanto, são necessários mais estudos que abordem a relação do microbioma na rosácea.