Prevenção e tratamento

Câncer de mama e exercício físico

Revisão integrativa dos efeitos da prática de exercício físico

Uma recente revisão abordou os benefícios dos exercícios físicos na prevenção, durante e após o tratamento do câncer de mama em mulheres. A publicação está disponível na última edição do ABC Cardiol, periódico nacional da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Após notar o aumento importante da incidência de câncer de mama na mulher a Comissão DERC Mulher (Departamento de Ergometria, Exercício, Cardiologia Nuclear e Reabilitação Cardiovascular) coordenada por Milena dos Santos Barros Campos, realizou uma revisão a respeito do assunto.

Foram avaliados quais os possíveis benefícios dos exercícios físicos na prevenção do câncer de mama e também quando a doença já está instalada.

“Já falamos muito sobre a redução do risco cardiovascular, mas pouco sobre o câncer de mama, que é o câncer de maior incidência e mortalidade em mulheres no mundo todo”, diz Milena.

Foi assim que iniciou a pesquisa que resultou no artigo Os Benefícios dos Exercícios Físicos no Câncer de Mama. O grande diferencial, além do foco na prevenção do câncer de mama, é a observação dos efeitos do exercício durante e após o tratamento.

“Existem vários estudos, com embasamento, que mostram a importância do exercício físico na prevenção do câncer de mama”, explica Milena.

Ela ainda ressalta que as causas genéticas são responsáveis por apenas 5-10% dos casos. E que mudanças de estilo de vida podem contribuir com a prevenção desse tipo de tumor.

Uma das primeiras e importantes pesquisas sobre a temática foi publicada em 1999, chamada Nurses Health Studies, e demonstrou a redução de incidência do câncer de mama em praticantes de atividade física em torno de 10-25%, no seguimento de 16 anos de um grupo de mulheres enfermeiras. Diversos estudos foram publicados posteriormente, reproduzindo esses resultados.

Portanto, o exercício físico, comprovadamente, pode ser um grande aliado na prevenção do câncer de mama. Ele provoca alterações na parte hormonal, aumentando o nível de proteínas ligadoras dos hormônios sexuais e reduzindo o nível de estrogênio circulante. Além disso, age na diminuição da inflamação sistêmica, na melhora do perfil metabólico, dentre outras ações.

Mas e durante e após o tratamento?

A revisão realizada ajudou a comprovar a importância do exercício na fase ativa da doença, em que a paciente está passando pelo tratamento.

“Os exercícios físicos reduzem a dor, a fadiga, melhoram a capacidade funcional da mulher, auxiliam em uma melhor tolerância ao tratamento do câncer, e reduzem o risco cardiovascular associado à doença e ao tratamento. Mas essa paciente precisa de incentivo pela equipe de saúde que faz seu acompanhamento”, ressalta Milena.

A coordenadora do DERC Mulher destacou que o tratamento traz vulnerabilidade, dor e fadiga. Por isso, é essencial que a equipe médica explique e encoraje o exercício físico, através de evidências científicas sobre a prática. Estudos pré-clínicos vêm mostrando o papel dos exercícios também na redução do crescimento e disseminação tumoral.

No pós-tratamento do câncer de mama, os exercícios físicos reduzem o risco de recorrência do tumor, aumentam a sobrevida destas pacientes e amenizam os efeitos adversos do tratamento, como a caquexia, conforme já avaliado em alguns estudos.

O assunto foi apresentado, pela primeira vez, em uma aula no Congresso do DERC a respeito da temática e teve grande aceitação. Milena relaciona o interesse das pessoas com o tema à importante incidência e mortalidade do câncer de mama nas mulheres.

“Como artigo de revisão, que relaciona os efeitos do exercício físico com o tratamento do câncer de mama, esse estudo é um dos mais completos na área da cardiologia”, diz Milena.

Ela ressaltou a importância de outros trabalhos sobre a temática e o papel dos profissionais da saúde no incentivo à prática.