Introdução |
Estima-se que aproximadamente 3,6% das pessoas ao redor do mundo sofram com algum tipo de transtorno de ansiedade e que o Brasil seja o país com maior prevalência de indivíduos com transtornos, com 9,3% de acometidos.1 O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) é um dos transtornos mentais mais frequentemente encontrados na clínica.2 Embora visto inicialmente como um transtorno leve, atualmente o TAG é uma doença crônica, associada com uma morbidade relativamente alta e altos custos individuais e sociais.3
Nos últimos anos, observou-se um grande avanço no tratamento farmacológico de transtornos da ansiedade. Recentemente, o tratamento mudou de benzodiazepínicos para antidepressivos, como a venlafaxina, pois os sintomas depressivos que às vezes acompanham o transtorno de ansiedade generalizada podem não responder bem aos benzodiazepínicos, além deles apresentarem algum risco de abuso, dependência e problemas associados, como efeitos de abstinência.
Em pacientes com TAG sem sintomas depressivos, um ansiolítico não benzodiazepínico eficaz é uma alternativa terapêutica importante. Neste sentido, a pregabalina, um análogo estrutural do ácido γ-aminobutírico (GABA), foi desenvolvida como um ansiolítico com base em seu perfil de atividade farmacológica. Nos primeiros estudos de segurança, a pregabalina foi rapidamente absorvida, com um perfil farmacocinético linear e meia-vida plasmática de cerca de 6 horas4,5. Estudos em voluntários saudáveis expostos a doses diárias de até 900 mg por 2–4 semanas não encontraram evidências de uma síndrome de abstinência após a interrupção abrupta da pregabalina4. Com base nessas características altamente desejáveis, os autores estudaram a eficácia e segurança da pregabalina no tratamento de pacientes com transtorno de ansiedade generalizada.
Métodos |
O estudo incluiu pacientes adultos com diagnóstico de TAG pelo DSM-IV, sendo excluídos pacientes com distimia, fobia social, transtorno de somatização ou transtorno depressivo maior. Os pacientes deveriam estar sem uso de fármacos psicotrópicos por pelo menos duas semanas.
Os pacientes deveriam apresentar pontuação ≥ 9 na Escala de Ansiedade de Covi e pontuação ≤ 7 na Escala de Depressão de Raskin para garantir que a ansiedade era predominante em pacientes com sintomas depressivos.
A gravidade dos sintomas de ansiedade foi avaliada pela Escala de Ansiedade de Hamilton (HAM-A) em todas as visitas. Era necessária pontuação ≥ 20 para inclusão no estudo. Sintomas depressivos também foram avaliados pela Escala de Depressão de Hamilton (HAM-D)1. Os pacientes também foram avaliados pela Escala de Impressão Clínica Global (CGI) e pela Escala Physician Withdrawal Checklist para avaliar sintomas de abstinência.
O estudo foi duplo-cego e controlado com placebo. Os pacientes receberam placebo durante uma semana, seguida de fase com 4 semanas de duração em que os pacientes foram randomizados para receber pregabalina 150 mg/dia (50 mg 8/8 hs) ou 600 mg/dia (200 mg 8/8 hs), lorazepam 6 mg/dia (2 mg 8/8 hs) ou placebo. Após, houve uma semana de retirada do fármaco. Os pacientes foram avaliados semanalmente durante o estudo.
O desfecho primário de eficácia foi a alteração na pontuação da Escala HAM-A. Também foi avaliada a proporção de pacientes que apresentaram resposta (redução ≥ 50% da pontuação HAM-A ou CGI apresentando “melhora importante” ou “melhora muito importante”). Foram registrados os eventos adversos (EAs) emergentes com o tratamento.
Resultados |
Foram avaliados 276 pacientes (idade 35,8 ± 11,1 anos; 59,4% do sexo feminino) conforme a intenção de tratar. A pontuação HAM-A basal foi de 23,31 ± 3,17, sem diferenças significativas entre os grupos. Também não houve diferenças entre os grupos em relação à idade e ao tempo do TAG. Alguns pacientes abandonaram o estudo antes do término devido a EAs, sendo que o grupo lorazepam apresentou a menor taxa de pacientes que completaram o estudo.
A redução da pontuação HAM-A foi significativamente maior nos grupos pregabalina 150 mg/dia e 600 mg/dia e lorazepam do que no grupo placebo (p < 0,05). A melhora já foi significativa desde a primeira semana com a pregabalina 600 mg/dia e o lorazepam.
Não houve diferenças significativas na redução da pontuação HAM-A entre os grupos pregabalina 150 mg/dia e 600 mg/dia (p = 0,36), assim como entre pregabalina 600 mg/dia e lorazepam (p = 0,13).
Considerando a escala HAM-A, houve maior proporção de respondedores no grupo pregabalina 600 mg/dia do que no grupo placebo (46% vs. 27%; p < 0,05). Resultado semelhante foi observado considerando a escala CGI.
Todos os grupos de tratamento ativos reduziram significativamente a pontuação da subescala de sintomas somáticos da HAM-A em comparação ao placebo. Pregabalina 600 mg/dia e lorazepam reduziram significativamente a pontuação da subescala psíquica em comparação ao placebo (p < 0,05), enquanto houve uma tendência de redução com pregabalina 150 mg/dia (p = 0,09).
Também observou-se melhora significativa da pontuação da escala HAM-D nos 3 grupos de tratamento. A melhora da pontuação foi principalmente devido à melhora dos itens de ansiedade e insônia.
Não houve nenhum EA grave nos grupos pregabalina. Um paciente do grupo lorazepam apresentou um EA grave (crise asmática). Tontura foi o EA mais frequente nos grupos pregabalina, geralmente de intensidade leve/moderada. Sonolência foi o EA mais frequente no grupo lorazepam. Abandono por EA foi mais frequente no grupo lorazepam. Não houve abandonos por EA no grupo pregabalina 150 mg/dia1. A pontuação na escala Physician Withdrawal Checklist foi semelhante entre os grupos pregabalina e placebo.
Conclusão |
Os autores concluíram que a pregabalina é uma opção terapêutica eficaz e segura para o tratamento do TAG, sem potenciais sintomas de abstinência. Os efeitos ansiolíticos da pregabalina foram notados já uma semana após início do tratamento.