Ainda gera dúvidas

Síndrome pós-finasterida

Embora seja considerada segura e eficaz, estudos demonstraram reações adversas persistentes

Autor/a: Ana Francisca Junqueira Ribeiro Pereira e Thaissa Oliveira de Almeida Coelho

Fuente: Anais Brasileiros de Dermatologia, v. 95, n. 3, p. 271-277, 2020 Síndrome pósfinasterida

A finasterida é um inibidor da enzima 5α‐redutase aprovado para o tratamento da alopecia androgenética masculina (AAG) e da hiperplasia prostática benigna (HPB). Ao longo do tempo, tem sido considerada uma droga segura e bem tolerada, com efeitos colaterais raros e reversíveis.

No entanto, recentemente, têm surgido relatos de reações adversas relacionadas ao medicamento que persistiram por pelo menos três meses após a suspensão da droga, emergindo o termo síndrome pós‐finasterida. Essa engloba reações adversas persistentes nos campos sexual, neuropsiquiátrico e físico.

Embora incomum, a disfunção sexual secundária à finasterida é um efeito adverso já conhecido, envolvendo perda de libido, além de disfunções erétil e ejaculatória. Recentemente, anedonia sexual, alteração na estrutura e redução da sensibilidade do pênis também foram relatadas. Contudo, a persistência desses sintomas após a descontinuação ainda é motivo de controvérsia no meio científico e não há estudos que avaliem de forma adequada essa questão.

Outra questão de debate é o impacto dos inibidores da 5α‐redutase sobre a fertilidade masculina. Porém, os dados de literatura são controversos, não sendo possível estabelecer uma relação causal entre ambos.

Em relação aos efeitos adversos neuropsiquiátricos dos inibidores da 5α‐redutase, faltam estudos clínicos para elucidá-los. No entanto, dos disponíveis, alguns reportaram depressão e ansiedade sem associação com disfunção sexual em usuários de finasterida, com melhora dos sintomas após a suspensão da droga. Apenas três estudos relataram sintomas perspectivos.

Por fim, os inibidores da 5α‐redutase podem contribuir para resistência à insulina, aumentando a predisposição a diabetes, esteatose hepática, alteração da distribuição de gordura corporal, síndrome metabólica e doenças cardiovasculares, por reduzirem o clearance de glicocorticoides e mineralocorticoides. Porém, mais estudos são necessários para confirmar tais efeitos com a finasterida.

Em resumo, os estudos disponíveis não permitem refutar ou confirmar a síndrome como uma entidade nosológica. Por isso, é importante criar recomendações práticas em relação à elegibilidade dos pacientes ao tratamento com a finasterida, bem como ao aconselhamento desses indivíduos sobre os possíveis riscos, outras opções terapêuticas da AAG e como devem proceder em caso de ocorrência de efeitos colaterais.