Revisão da doença

Cólera: Diagnóstico, Tratamento e Perspectivas Futuras

Uma análise abrangente da doença, suas características patológicas, métodos de diagnóstico, tratamentos atuais e potencial terapêutico dos probióticos

Fuente: IntraMed Brasil

Indice
1. Página principal
2. Referências bibliográficas
Introdução

A cólera é uma doença diarreica aguda causada pela bactéria Vibrio cholerae, transmitida por contaminação fecal-oral ou pela ingestão de água ou alimentos contaminados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima entre 1,4 milhão e 4,0 milhões de casos e 21.000 a 143.000 mortes em todo o mundo por ano devido à doença.

A toxina liberada por dois sorogrupos específicos da bactéria (sorogrupos O1 e O139) faz com que o corpo elimine grandes quantidades de água, resultando em diarreia aquosa, desidratação e perda de fluidos e sais minerais essenciais. Quando não tratada prontamente e de forma adequada, a cólera pode evoluir para quadros mais graves e causar complicações, como desidratação intensa, podendo levar à morte. A prevenção é baseada no acesso à água potável, ao saneamento adequado e na vacinação oral.

Patologia

A bactéria Gram-negativa V. cholerae é classificada sorologicamente em mais de 200 sorogrupos, sendo os O1 e O139 responsáveis pelas epidemias recentes. V. cholerae produz uma toxina termolábil chamada toxina colérica (TC), que é uma exotoxina baseada na proteína AB5. Essa adere à mucosa do intestino delgado e consiste em duas subunidades: uma subunidade A (CTA) e cinco subunidades B (CTB). A segunda se fixa às células eucarióticas, enquanto a primeira é internalizada nas células, resultando no aumento do AMP cíclico (cAMP) e causando diarreia secretora, levando à desidratação grave.

A infecção por cólera pode variar de assintomática a grave. A diarreia é geralmente indolor e, nos estágios iniciais, pode conter bile ou matéria fecal. Um paciente adulto com cólera grave pode eliminar até 1.000 mL por hora de fezes aquosas, o que pode levar à hipovolemia, choque e, em casos extremos, à morte (conhecida como "cólera gravis"). A cólera grave também é caracterizada por respiração rápida e profunda devido à hiperventilação (respiração de Kussmaul) e à acidose metabólica (perda de bicarbonato nas fezes).

Diagnóstico

O diagnóstico segue as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), que sugere suspeitar de cólera quando um paciente com 5 anos ou mais apresenta desidratação grave ou morre de diarreia aquosa aguda, mesmo em áreas onde a bactéria não é conhecida. O diagnóstico é feito por meio do cultivo de amostras de fezes ou vômito. Quando o Vibrio cholerae é identificado, deve ser encaminhada a um laboratório de referência nacional para análises adicionais (como caracterização bioquímica, sorológica e molecular). Essas análises não apenas confirmam o diagnóstico, mas também ajudam a avaliar as características das bactérias circulantes e a detectar resistência a antimicrobianos. Quando há suspeita de cólera, é importante considerar um diagnóstico diferencial abrangente, que leve em conta todos os microrganismos capazes de causar doenças diarreicas agudas.

Tratamento

De acordo com o Ministério da Saúde, o tratamento eficaz da cólera se baseia na reidratação rápida dos pacientes, que pode ser feita por via oral com líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO) ou, em casos graves, por via endovenosa. Cerca de 80% dos casos de cólera são leves a moderados e podem ser tratados apenas com a administração oral de líquidos e SRO (plano A e B). Pacientes com desidratação grave devem receber fluidos intravenosos (plano C) e, em alguns casos, antibióticos apropriados para reduzir a duração da diarreia, diminuir a quantidade de fluidos de reidratação necessária e encurtar o período de excreção da bactéria.

Tabela. Antibióticos que podem ser utilizados em casos de cólera com desidratação grave. Tabela adaptada de Ministério da Saúde (2024).

> Potencial tratamento futuro

Como um potencial tratamento futuro para a cólera, a suplementação com probióticos tem sido considerada uma abordagem promissora. Estudos demonstraram a importante contribuição do microbioma intestinal no combate à cólera e outras doenças diarreicas. Os probióticos têm a capacidade de restaurar o equilíbrio da microbiota intestinal e, portanto, podem ser utilizados para controlar clinicamente a cólera. Além disso, o seu uso pode ajudar a limitar a resistência antimicrobiana ao reduzir a necessidade de antibióticos.

Conclusão

A bactéria V. cholerae é responsável por epidemias periódicas de cólera em várias regiões do mundo, uma doença que requer tratamento imediato, pois pode levar à morte em poucas horas em casos moderados a graves. Com o uso de fluidos intravenosos, SRO e terapia com zinco, a progressão para desidratação grave e a mortalidade podem ser significativamente reduzidas. Além disso, antibióticos, micronutrientes e probióticos podem auxiliar na recuperação. Para prevenir a doença, são necessários vigilância extensiva e robusta da cólera, diagnóstico rápido, tratamento e educação em saúde para um maior controle sustentado. Por fim, é fundamental o apoio político em todos os níveis de governo para alcançar esses objetivos.