Da fisiologia ao manejo

Impactos do expossoma na pele de mulheres na menopausa

Orientação aos dermatologistas nos cuidados preventivos e tratamentos para melhorar a qualidade de vida e da pele na menopausa de pacientes

Autor/a: Antelo et al (2023)

Fuente: http://www.surgicalcosmetic.org.br/details/1002/pt-BR

Introdução

A menopausa é caracterizada pela interrupção permanente do ciclo menstrual, sendo oficialmente declarada após 12 meses consecutivos de amenorreia. Este evento geralmente ocorre em mulheres com idades compreendidas entre 43 e 53 anos. A transição para a menopausa, juntamente com os sinais e sintomas associados, é influenciada por uma variedade de fatores intrínsecos e extrínsecos, incluindo aspectos socioambientais e de estilo de vida.

Com o aumento da expectativa de vida no Brasil, atualmente/ cada vez mais, as mulheres passam uma parte significativa de suas vidas na fase pós-menopausa. Isso destaca a importância de buscar a preservação da qualidade de vida durante o climatério.

Para abordar essas questões, Antelo e colaboradores (2023) conduziram uma revisão bibliográfica com o objetivo de explorar como os fatores extrínsecos impactam a fisiologia das manifestações clínicas dermatológicas durante a menopausa. Além disso, propuseram diretrizes práticas para o manejo adequado dessas pacientes, visando melhorar sua qualidade de vida nessa fase específica.

Fatores do expossoma e as manifestações clínicas dermatológicas na menopausa

Fisiologia na menopausa

A complexidade das manifestações clínicas na menopausa está intrinsecamente ligada a alterações hormonais, especificamente na redução dos níveis de estrogênio. A diminuição progressiva dos folículos primordiais nos ovários ao longo da vida desencadeia modificações no eixo hipotálamo-hipófise-ovário, resultando na diminuição da produção de inibina B, estradiol e progesterona.

A redução na produção de inibina B, cuja função normal é inibir a secreção do hormônio folículo-estimulante (FSH), leva a um aumento no desenvolvimento folicular, resultando em encurtamento dos ciclos menstruais e ovulação irregular durante a transição para a menopausa. No climatério, os níveis de FSH e hormônio luteinizante (LH) tendem a aumentar, enquanto a concentração de estradiol diminui significativamente, sendo substituído predominantemente pela estrona como o estrogênio circulante.

O desequilíbrio entre estrogênios e androgênios é acentuado pela redução nas concentrações da globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG), que se liga especificamente à testosterona e ao estradiol, resultando no aumento subsequente do índice de androgênios livres. A diminuição da progesterona intensifica o impacto dos hormônios androgênicos na glândula sebácea e no folículo piloso.

A produção de estrogênios nas mulheres ocorre predominantemente nos tecidos periféricos, representando cerca de 75% durante a pré-menopausa e quase 100% na pós-menopausa. A pele, sendo o maior alvo não reprodutivo do estrogênio, atua por meio da ligação aos receptores alfa e beta (ERα e ERβ) expressos pelos queratinócitos e fibroblastos, além do receptor de estrogênio de membrana acoplado à proteína G.

> Fatores expossomais

A maioria das mulheres relata uma variedade de sintomas decorrentes de fatores internos do expossoma, como composição corporal, metabolismo e mudanças hormonais. À medida que os hormônios sexuais diminuem com a idade, exercem uma influência significativa no envelhecimento intrínseco da pele, culminando em senescência celular, encurtamento dos telômeros, redução da capacidade proliferativa celular, inflamação crônica, danos ao DNA mitocondrial e aumento de radicais livres.

A deficiência de estrogênio está fortemente correlacionada com a perda de colágeno cutâneo. Nos primeiros cinco anos após o início da menopausa, ocorre uma perda acelerada dessa proteína, com uma redução média de 2,1% ao ano no conteúdo total de colágeno I e III. Além disso, foram observadas mudanças degenerativas aceleradas nas fibras elásticas em mulheres com menopausa prematura, com aumento anual de 1,1% na distensibilidade da pele facial e diminuição de 1,5% na elasticidade.

A deficiência de estradiol está associada a uma menor capacidade de defesa contra o estresse oxidativo, resultando na redução do teor de água da pele, atrofia devido à perda de colágeno na derme, surgimento de rugas finas com diminuição da elasticidade cutânea, comprometimento no processo de cicatrização, redução da vascularização e ocorrência de fogachos.

> Fatores externos gerais

Socioambientais: Alterações na composição corporal e na distribuição de gordura, mesmo sem variações no peso corporal, podem impactar a autopercepção da imagem corporal e agravar transtornos de humor.

Exposição à Radiação UV: Em mulheres pós-menopausa, uma pesquisa identificou uma associação entre maior exposição à radiação UV e níveis reduzidos de estradiol e estrona, bem como elevação nos níveis de FSH e LH. Um possível mecanismo está relacionado ao metabolismo da vitamina D e ao seu armazenamento no tecido adiposo, principal local de produção de estrogênio nessas pacientes.

Poluição: Evidências indicaram que a poluição ambiental pode interferir no sistema endócrino, afetando a síntese de hormônios esteroides e da tireoide. Além disso, ela pode inibir a atividade e expressão do citocromo P450, levando à deficiência de vitamina D.

> Fatores externos específicos

Estresse e Sono: Uma rotina estressante e a privação do sono formam um ciclo prejudicial, pois o primeiro, ao contribuir para um estado pró-inflamatório, eleva os níveis de cortisol, retardando o início do sono. Tanto o cortisol quanto as citocinas pró-inflamatórias podem prejudicar a produção e integridade das fibras de colágeno, resultando em perda de água e danos ao DNA.

Tabagismo: O hábito de fumar está associado ao envelhecimento precoce da pele. Isso resulta na degeneração do colágeno, deposição de material elástico anormal, aumento de glicosaminoglicanos (GAGs) e proteoglicanos (PGs) disfuncionais, além de dilatação dos vasos sanguíneos com espessamento das paredes. Estudos sugeriram que esses danos podem não ser reversíveis.

Nutrição: Durante a perimenopausa, as mulheres enfrentam um aumento no risco de desenvolver transtornos de compulsão alimentar. O consumo excessivo de alimentos, açúcares e carboidratos processados contribui para a formação de produtos de glicação avançada, afetando as ligações entre as fibras de colágeno e reduzindo a elasticidade da pele e das paredes internas dos vasos sanguíneos.

Atividade Física (ou Sedentarismo): Estudos indicaram que a prática infrequente de exercícios físicos e a privação frequente do sono são fatores de risco potenciais para o desenvolvimento de rugas faciais.

Manejo da pele na menopausa

Uma grande parcela das mulheres não está plenamente informada sobre a maioria dos sintomas da menopausa, especialmente aqueles que ocorrem de maneira precoce. Portanto, é crucial que os profissionais de saúde estejam capacitados a orientar suas pacientes, proporcionando um melhor entendimento dessa transição fisiológica.

Além disso, é fundamental que esses gerenciem de forma eficaz os sinais e sintomas, visando garantir que as pacientes atravessem essa fase com a melhor qualidade de vida possível.

> Nutrição e suplementação oral

A fase da menopausa requer uma adaptação na dieta, especialmente em relação aos macronutrientes que impactam a saúde da pele. Durante este período, é crucial aumentar a ingestão de proteínas, priorizando fontes ricas em aminoácidos específicos, como cisteína, lisina e triptofano. Por outro lado, é recomendável evitar o consumo excessivo de doces e carboidratos refinados, que podem levar a elevações nos níveis de glicose. Nesse contexto, a inclusão de suplementos orais e nutracêuticos pode ser considerada para complementar os nutrientes essenciais na dieta.

É aconselhável também evitar o consumo de bebidas alcoólicas, limitar a ingestão de cafeína, e reduzir o consumo de alimentos pungentes, como pimenta-do-reino (que contém piperina) e canela (que contém aldeído cinâmico). Esses elementos podem induzir vasodilatação e possivelmente desencadear sintomas como fogachos e contribuir para o surgimento de condições como a rosácea.

> Atividade física

A participação constante em atividades físicas recruta a microcirculação, exercendo efeitos benéficos na saúde da pele, na aptidão cardiorrespiratória e na redução de fogachos. É recomendável encorajar a realização de 150 minutos de atividade aeróbica de intensidade moderada por semana, juntamente com exercícios de fortalecimento muscular.

> Terapia de reposição hormonal (TRH)

A administração de terapia hormonal nos primeiros 36 meses após o último período menstrual pode ser benéfica no manejo dos sintomas vasomotores, na redução do risco de fraturas osteoporóticas, na melhoria da qualidade de vida e potencialmente na proteção cardiovascular. Em sua maioria, a terapia hormonal demonstrou efeitos positivos, contribuindo para o aumento da quantidade de colágeno na pele, melhorando a espessura, elasticidade e hidratação, além de reduzir o ressecamento vaginal.

Entretanto, os potenciais riscos de desenvolver tromboembolismo podem superar os benefícios em mulheres de idade avançada. Os riscos variam de acordo com o tipo, dose, duração do uso, via de administração, tempo de início e necessidade de uso de progestágenos, sendo ideal que o tratamento seja individualizado e acompanhado por médico. Apesar dos resultados promissores, apenas a indicação de antienvelhecimento ainda não justifica.

> Tratamentos dermatológicos tópicos

Na criação de uma rotina dermocosmética eficaz, é essencial considerar as necessidades da pele durante a peri e pós-menopausa e selecionar os ativos apropriados. Uma abordagem hierarquicamente organizada pode ser estabelecida, seguindo uma adaptação à "Pirâmide da Saúde e Beleza da Pele" (Figura 1). Nessa estrutura, a base da pirâmide representa os cuidados diários indispensáveis, o meio indica os elementos necessários para auxiliar na transformação, e o topo representa elementos adicionais, porém, de extrema relevância para estimular a renovação celular.

Figura 1. Adaptação da pirâmide da saúde e beleza da pele, incluindo ativos dermatológicos tópicos importantes na menopausa. Imagem adaptada de Antelo e et al. (2023).

Conclusão

Muitas vezes, o declínio hormonal na menopausa resulta em preocupações relacionadas ao processo de envelhecimento e na diminuição da autoestima entre as mulheres. Nesse contexto, é crucial que o dermatologista desempenhe um papel ativo na prevenção e cuidado da pele, tanto facial quanto extrafacial. Isso envolve a implementação de intervenções direcionadas para estimular a formação de colágeno e aprimorar a sustentação da pele. Entender o estilo de vida da paciente a partir dos 40 anos pode fornecer insights valiosos para orientações gerais, facilitando o manejo dos fatores extrínsecos e a seleção de produtos adequados de acordo com a realidade individual do paciente.