Orientações importantes

Hipotireoidismo subclínico na população feminina infértil

As complicações podem incluir um aumento na incidência de infertilidade, aborto espontâneo e resultados fetais e obstétricos adversos.

Autor/a: Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine.

Fuente: Subclinical hypothyroidism in the infertile female population: a guideline

Recomendações

  • Os dados atualmente disponíveis apoiam que é razoável testar o TSH em mulheres inférteis que tentam engravidar. Se as concentrações de TSH estiverem acima da faixa de referência laboratorial não grávida (tipicamente >4 mUI/L), os pacientes devem ser tratados com levotiroxina para manter os níveis abaixo de 2,5 mUI/L.
  • Dados limitados indicaram que, se os níveis de TSH antes da gravidez estiverem entre 2,5 e 4 mUI/L, as opções de manejo incluem monitorar os níveis e tratar quando o TSH for >4 mUI/L, ou tratar com levotiroxina para manter o TSH <2,5 mUI/L. (Grau C)
  • Durante o primeiro trimestre da gravidez, é aconselhável tratar quando o TSH estiver >2,5 mUI/L
  • Embora os testes de anticorpos da tireoide não sejam rotineiramente recomendados, pode-se considerar a medição de anticorpos anti-tireoperoxidase (TPO) para valores repetidos de TSH >2,5 mUI/L ou quando outros fatores de risco para doenças tireoidianas estiverem presentes.
  • Se os anticorpos anti-TPO forem detectados, os níveis de TSH devem ser verificados, e o tratamento deve ser considerado se o nível de TSH estiver acima de 2,5 mUI/L.

O hipotireoidismo pode ter um impacto significativo nos resultados reprodutivos. As complicações podem incluir um aumento na incidência de infertilidade, aborto espontâneo e resultados fetais e obstétricos adversos. Alguns estudos sugeriram também que o tratamento inadequado do hipotireoidismo evidente ou do subclínico (HSC) pode levar a esses resultados obstétricos adversos.  

A definição clássica de HSC é um nível de tireotropina (TSH) maior que o limite superior da faixa normal (4,5–5,0 mIU/L) com níveis normais de tiroxina livre (T4 livre). No entanto, persiste o debate na definição de HSC e na decisão de quando tratar, especialmente para mulheres que estão tentando engravidar.  Por isso, a Endocrine Society, a American Thyroid Association (ATA) e a American Association of Clinical Endocrinologists (AACE) estabeleceram diretrizes sobre quando e como tratar a disfunção tireoidiana.

  • Associação do HSC com a perda gestacional

O hipotireoidismo evidente está associado a um aumento na taxa de perda gestacional. No entanto, dados sobre se o HSC está ou não associado são conflitantes. Alguns estudos demonstraram um possível aumento do risco, enquanto outros não. Quando os níveis de TSH > 4 mIU/L durante a gravidez, há evidências mais consistentes da perda gestacional. Quando se encontram entre 2,5 e 4 mIU/L, os dados são insuficientes. Os resultados contraditórios podem ser devidos ao pequeno número de perdas fetais com deficiência tireoidiana, diferenças no momento da triagem tireoidiana e diferenças nos valores de corte do TSH.

  • Associação do HSC com a infertilidade

Os dados que avaliaram o efeito do HSC na fertilidade foram limitados, no entanto, no geral, a incidência do desiquilíbrio hormonal foi semelhante em mulheres inférteis e na população feminina, embora o nível médio de TSH possa ser ligeiramente mais alto em uma população de mulheres inférteis.

  • Associação do HSC com resultados obstétricos adversos

A relação entre o HSC com níveis de TSH fora da faixa normal durante a gravidez sugeriu que pode haver um aumento no risco de resultados obstétricos adversos, incluindo descolamento prematuro da placenta, parto prematuro, morte fetal e ruptura prematura das membranas (RPM). No entanto, os estudos disponíveis são limitados pelo fato de que eventos clinicamente relevantes são raros, e os estudos são em sua maioria retrospectivos. Ademais, não há dados que avaliem se os níveis de TSH pré-gravidez entre 2,5 e 4 mIU/L estão associados a resultados obstétricos adversos.

  • Associação do HSC não tratado com resultados no desenvolvimento da criança

O feto não produz hormônio tireoidiano antes de 10–13 semanas de gestação. Portanto, a substância materna é imperativa no início da gravidez. Há evidências de que o hipotireoidismo não tratado durante esse período pode atrasar a maturação neurológica e o desenvolvimento fetal, assim como prejudicar o desempenho escolar e reduzir o quociente de inteligência da prole. Embora pareça que o hipotireoidismo materno evidente tenha efeitos adversos sobre os resultados do desenvolvimento, os impactos do HSC ainda não foram bem estabelecidos.

  • Tratamento

Há boas evidências de que o tratamento com levotiroxina em mulheres com HSC foi associado a melhorias nas taxas de gravidez e aborto espontâneo. No entanto, as evidências são insuficientes quando apresentam níveis de TSH entre 2,5 e 4 mIU/L.  

Em 2011, pesquisadores conduziram um ensaio clínico randomizado em uma população de 64 pacientes inférteis com HSC (nível de TSH >4,5 mIU/L com nível normal de FT4) que haviam passado por fertilização in vitro. As participantes foram randomizadas para o grupo de tratamento com 50 mcg levotiroxina ou controle. Descobriram que o tratamento não alterou o número de óvulos coletados ou a porcentagem que atingiu a maturidade. No entanto, observaram um aumento significativo no número de embriões de grau I ou II (P=0,007) e na taxa de implantação (26,9% vs. 14,9%, P=0,044). A taxa de aborto espontâneo foi significativamente menor no grupo de tratamento com levotiroxina (0 vs. 33,3%; P=0,021), e como resultado, a taxa de nascidos vivos foi significativamente maior (53,1% vs. 25%, P=0,039).

Apenas um único ensaio clínico observou os efeitos do tratamento com levotiroxina para o TSH nos resultados do desenvolvimento infantil. O mesmo não encontrou uma melhora na condição.

Por fim, há evidências sólidas de que a autoimunidade tireoidiana está associada a abortos espontâneos e razoáveis de que está associada à infertilidade. O tratamento com levotiroxina pode melhorar os resultados da gravidez em mulheres com anticorpos tireoidianos positivos, especialmente se o nível de TSH estiver acima de 2,5 mIU/L.

Portanto, tratar a SCH quando o TSH está entre 2,5 mIU/L e o limite superior normal antes da gravidez continua sendo controverso. No entanto, dado que parece haver benefício em alguns subgrupos e risco mínimo, é razoável realizar o tratamento, mesmo que a evidência seja fraca. Alternativamente, é razoável monitorar os níveis e tratá-los. Por isso, é importante a recomendação da triagem universal da função tireoidiana antes ou durante a gestação.