Introdução |
A nefropatia por imunoglobulina A (NIgA) é a glomerulonefrite mais frequente no mundo, com uma incidência global de 2,5 por 100.000 por ano. Foi identificada pela primeira vez em 1968 pelo nefrologista francês Dr. Jacques Berges e, portanto, historicamente se denominou doença de Berger.
A NIgA inicialmente foi considerada uma doença autolimitada benigna, mas os estudos epidemiológicos sugeriram que entre 20% e 405 dos pacientes desenvolvem insuficiência renal dentro dos 10 a 20 anos posteriores ao diagnóstico.
Manifestações clínicas |
Classicamente, os pacientes apresentam hematúria macroscópica depois de uma infecção do trato respiratório superior. Outros hematúria glomerular microscópica, proteinúria em alcance não nefrótico e diminuição da função renal. Com menos frequência, os pacientes apresentaram glomerulonefrite progressiva rápida que se manifesta com lesão renal aguda e hipertensão, com ou sem síndrome nefrótica.
Diagnóstico diferencial |
A deposição mesangial de IgA é identificada em até 16% dos doadores de aloenxertos renais. A IgA é catabolizada principalmente pelos hepatócitos, e a doença hepática crônica pode levar ao aumento da IgA1 circulante e ao aumento da deposição mesangial não patogênica.
A glomerulonefrite associada a infecção por Staphylococcus aureus é uma entidade bem descrita que pode ter características clínicas similares, incluindo manifestações multisistêmicas de vasculite de pequenos vasos e patologia de biópsia renal.
A vasculite IgA (anteriormente conhecida como púrpura de Henoch-Schonlein) é uma vasculite sistêmica de vasos pequenos associada com vasculite leucocitoclástica da pele, dor abdominal e artralgia.
Manejo sem imunossupressão |
As estratégias conservadoras que podem reduzir a progressão da doença incluem a ingestão de sódio de menos de 2g/dia, o controle de peso, o abandono do hábito de fumar, a atividade regular e a evitação dos medicamentos anti-inflamatórios não esteroides. Os médicos devem levar como objetivo uma pressão arterial inferior a 130/80mm Hg e uma proteinúria menos de 1g/dia, mediante o bloqueio máximo do sistema renina-angiotensina (SRA) com inibidores da enzima conversora de angiotensina ou bloqueadores dos receptores de angiotensina.
Os inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 tem sido aprovado recentemente pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA para pacientes com ou sem diabetes e com uma taxa de filtração glomerular (TFG) maior ou igual a 25 ml/min/1,73 m2 da área de superfície corporal depois de mostrar reduções no progresso da doença renal crônica (DRC) no estudo DAPA-CDK (Dapagliflozina e prevenção de resultados adversos na doença renal crônica).
O estudo randomizou 270 pacientes com nefropatia por IgA. A análise de subgrupos demonstrou que a dapagliflozina diminuiu o risco de progressão de DRC em 1,2 ml/min/1,73 m2 por ano e reduziu a proporção de albumina-creatinina na urina em 26%.
Imunossupressão |
Pode estar indicada um teste de glicocorticoides orais se persistir mais de 1g de proteinúria durante 3 ou mais meses depois de fazer teste de dosagem máxima não imunossupressora ou se o paciente já tem um alto risco de doença renal. Tem sido estudado a terapia com glicocorticoides e outros medicamentos imunossupressores com resultados contraditórios.
O ensaio STOP-NIgA (terapia de apoio frente ao tratamento imunossupressor da nefropatia progressiva por IgA) os pacientes com DRC em estado 1 a 3 e proteinúria inferior a 3,5 g/dia tratados com imunossupressão não tiveram diferenças na diminuição da TFG e teriam um maior risco de infecções graves.
O ensaio NeflgArd Parte A randomizaram 199 pacientes com NIgA para bloqueio máximo do SRA e formulação de liberação direcionada de budesonida 16 mg/dia ou placebo por 9 meses e demonstraram uma redução de 27% na proteinúria e uma diferença de preservação da TFG de 3,87 ml/min/1,73m2 em comparação ao placebo. Como esperado, houve mais efeitos colaterais no grupo de tratamento e, apesar do uso de um esteroide de liberação direcionada, os pacientes apresentaram efeitos adversos sistêmicos relacionados aos glicocorticoides.
Conclusão A NIgA possui um amplo espectro de apresentações clínicas e 20% a 40% dos pacientes desenvolveram insuficiência renal dentro dos 10 a 20 anos posteriores ao diagnóstico. Todos devem ser tratados com modificação do estilo de vida e bloqueio máximo de SRA, especialmente se há proteinúria. As ferramentas de prognóstico estão disponíveis para equilibrar o risco e os benefícios das terapias não imunossupressoras e imunossupressoras. Novas terapias receberam aprovação acelerada da FDA, mas ainda são necessários dados de longo prazo sobre a preservação da TFG. |