Lactobacillus rhamnosus

Há lugar para o uso de probióticos na prevenção da dermatite atópica pediátrica já na gestação?

O uso de Lactobacillus rhamnosus quando administrados às gestantes e nos lactentes depois do nascimento, têm um efeito positivo prolongado na redução da incidência da dermatite atópica em crianças

Introdução

A dermatite atópica (DA) é um dos tipos mais comuns de eczema, principalmente na infância, embora alguns casos possam ter início na vida adulta.  É uma doença genética, crônica e onde a coceira e a pele seca são as principais características. Acomete principalmente as grandes dobras do corpo como braços, joelhos e pescoço. Atualmente, é conhecida como principal causa de outras formas de atopia como asma, alergia ou conjuntivite, embora essas não precisem ocorrer ao mesmo tempo.

Vários fatores estão envolvidos no desenvolvimento da DA, incluindo predisposição genética, fatores ambientais e disbiose microbiana. A doença está associada a uma disfunção na barreira da pele e das células de resposta inflamatória, bem como o desequilíbrio das citocinas perfil Th1/Th2, com ativação predominante das citocinas Th2, resultando em aumento dos níveis de imunoglobulina IgE sérica total e o aumento de eosinófilos na circulação.

Diversos estudos demonstraram que uma menor diversidade da microbiota intestinal nas primeiras semanas de vida está associada a um maior risco de desenvolver DA. Por isso, o uso de suplementação probiótica desde o período pré-natal até a primeira infância tem sido estudado como um método para apoiar ou otimizar a composição microbiana intestinal e alterar o risco de doença alérgica infantil. Atualmente, a cepa Lactobacillus rhamnosus é a mais estudada.

Por essa razão, Voigt e Lele (2022) realizaram uma revisão sistemática com o objetivo de determinar se L. rhamnosus usado isoladamente ou em conjunto com outros probióticos demonstra um efeito preventivo de longo prazo na doença atópica em pacientes pediátricos quando usado no período perinatal.

Métodos

Uma revisão sistemática foi realizada para identificar os estudos em que L. rhamnosus foi usado (isolado ou em conjunto com outros probióticos) na condição. As seguintes bases de dados foram pesquisadas desde o ano 2000 até 2021: PubMed, Cochrane Reviews e Cochrane Central Database of Controlled Trials; revisões sistemáticas foram pesquisadas manualmente para identificar ensaios clínicos randomizados (RCTs).

Técnicas estatísticas meta-analíticas foram então empregadas. A avaliação da incidência de eczema atópico também foi examinada longitudinalmente. Classificações de Recomendações, Avaliação, Desenvolvimento e Avaliações (GRADE) foram empregadas para determinar a qualidade da evidência.

Resultados

No total, 11 estudos randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo foram identificados relatando a incidência de DA após o uso pré e pós-natal de L. rhamnosus. Destes, dez evidenciaram dermatite atópica até 2 anos (N = 2.572 mães/ bebês), três estudos até 4–5 anos (N = 1.278), três estudos até 6–7 anos (N = 588 ) e dois estudos até 11 anos (N = 999). Além disso, cinco estudos usaram apenas L. rhamnosus e seis usaram uma combinação de cepas versus placebo.

No geral, L. rhamnosus como monoterapia ou quando usado em conjunto com outras cepas probióticas durante a gravidez até a pós-gravidez demonstrou uma redução significativa do risco de DA na prole ao longo do tempo; especificamente aos 2 anos e 6-7 anos. Ademais, nenhum estudo relatou evento adverso com o uso da suplementação.

Conclusão

Sendo assim, o uso de L. rhamnosus com ou sem outros probióticos associados, durante a gravidez e pós-gravidez em bebês, tem um efeito positivo na redução da incidência de DA que persiste por pelo menos 7 anos.