Introdução |
A doença de Lyme foi descrita em 1975 em crianças após serem picadas por carrapatos e pela formação do eritema migratório (EM), caracterizado por lesões de pele únicas ou múltiplas, de crescimento centrífugo. A doença está disseminada mundialmente, principalmente na Europa e Ásia e América do Norte. Na América do Sul há relatos na Argentina, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Chile e Brasil.
Nos Estados Unidos, estima-se que aproximadamente 300.00 pessoas contraiam a doença a cada ano. No Brasil, ainda não há estimativa do número de casos da doença.
No Brasil foi diagnosticada pela primeira vez em 1992, sendo identificada no país a Borrelia burgdorferi, uma bactéria que pode apresentar variações genéticas conforme a região em que se encontra. A bactéria é transmitida por carrapatos do gênero Ixodes e, no Brasil especialmente, pela espécie Amblyomma cajennense a mesma que transmite a febre maculosa.
A apresentação clínica da doença de Lyme se diferencia entre os países devido às variações antigênicas, uma vez que a bactéria possui distinções de acordo com o vetor, com o clima e aspectos ecológicos da região. Na América do Norte predominam manifestações cutâneas e articulares, na Europa as manifestações neurológicas, já no Continente Asiático basicamente são cutâneas e neurológicas. Não ocorre transmissão inter-humana e é incomum a transmissão maternofetal.
Sintomatologia |
Em humanos, em média o período de incubação varia de 7 a 14 dias, mas pode variar de 3 a 32 dias, com o aparecimento do eritema crônico migratório (EM) ou a exposição do vetor (carrapato). Mesmo se a lesão cutânea não aparecer na fase inicial, à doença pode se manifestar anos depois, uma vez que as Borrélias podem permanecer na pele durante grandes períodos de tempo, sem causar doença sistêmica até que se produza uma quebra das defesas do hospedeiro, o que dificulta o diagnóstico correto e rápido da doença.
A infecção causada pela bactéria pode ser subclínica (assintomática) ou apresentar um grande número de sinais clínicos, dependendo dos tecidos afetados, duração da infecção, vulnerabilidade do sistema imunitário do hospedeiro, e fatores imunogenéticos, que podem predispor o desenvolvimento de complicações.
A fase precoce inicia-se entre 3 e 60 dias após a picada do carrapato. A primeira manifestação clínica da doença na pele, no local onde ocorreu a picada do carrapato, com o aparecimento do eritema migratório (EM). Esta lesão cutânea é identificada por apresentar um formato anelar, extensiva, avermelhada, quente, de diâmetro superior a 5 cm (com limites de 68 a 75 cm de diâmetro), habitualmente com um centro claro e limitado por um círculo eritematoso brilhante em alguns casos doloroso. O EM pode ser instável e pouco visível; também pode apresentar outros sintomas menos característicos, vulgarmente denominados “gripais”, como por exemplo, febre, astenia, mialgias, artralgias, etc. Com menos frequência pode aparecer tosse não produtiva. Rigidez na nuca, mal-estar, cefaleia e linfadenopatias, às vezes podem estar presentes. Podem surgir manifestações oftalmológicas, especialmente conjuntivite e irite. Pode ainda ocorrer comprometimento hepático, com quadro clínico semelhante ao de hepatite vírica moderada.
Diagnóstico |
O diagnóstico da doença de Lyme é baseado na identificação dos aspectos clínicos apresentados pela doença, associado a testes laboratoriais. O diagnóstico microbiológico é pouco produtivo, devido à diversidade dos agentes etiológicos de Borreliose de Lyme.
A detecção de anticorpos específicos, neste caso da Borrelia burgdorferi, é o teste mais utilizado (ELISA). O Western Blotting (presença de duas bandas de IgM ou quatro bandas para IgG ou a concomitância de uma banda de IgM com duas de IgG) é importante quando se suspeita de ELISA falso positivo, uma vez que é mais sensível e específico para diagnóstico. A reação em cadeia da polimerase (PCR) é empregada para detecção do DNA da espiroqueta em material do hospedeiro.
Tratamento |
Quando o tratamento é realizado precocemente com antibióticos orais, o eritema crônico migratório (EM) desaparece rapidamente e as principais complicações geralmente não se desenvolvem (miocardite, meningoencefalite e artrite recidivante).
Quando o tratamento não é realizado, os sintomas podem permanecer por semanas e após meses podem surgir complicações neurológicas (15% dos casos) como meningite asséptica, encefalite, neurite de pares dos nervos cranianos (incluindo a paralisia facial bilateral), radiculoneurite motora e sensorial. O sintoma mais comum é a meningoencefalite flutuante, com paralisia de nervo craniano. O comprometimento cardíaco com bloqueio atrioventricular, miopericardite aguda e evidências de disfunção ventricular esquerda, aparecem em 8% dos casos.
As artrites podem ser tratadas com doxiciclina ou amoxicilina acrescidos de 500mg de probenecida por 4 semanas.
Diferença entre a doença de Lyme e a febre maculosa |
É comum a confusão entre as duas patologias pois ambas são causadas por bactérias transmitidas por carrapatos, no entanto, elas não são a mesma doença.
> Diferença entre as bactérias
Embora ambas sejam transmitidas por picadas de carrapatos, a febre maculosa e a doença de Lyme são infecções diferentes. A maior diferença é o tipo de bactéria que causa as infecções.
A doença de Lyme é causada por espécies do grupo de bactérias borrelia burgdorferi, enquanto a febre maculosa é causada por uma bactéria conhecida como Rickettsia.
> Diferença entre os sintomas
Os principais sintomas da doença de Lyme incluem: febre, dor de cabeça, fadiga, erupção cutânea com eritema migratório, dores articulares e gânglios linfáticos inchados. Enquanto isso, os principais sintomas da febre maculosa incluem: náusea e vomito, diminuição de apetite, irritação da pele, dor de cabeça, febre, dor de estomago e dor muscular.
Embora tenham sintomas diferentes, ambas condições podem ser difíceis de diagnosticar porque muitas vezes esses não são específicos dessas doenças.
> Diferença entre as complicações
Algumas complicações a longo prazo da doença de Lyme incluem: dor do nervo, batimentos cardíacos irregulares ou palpitações cardíacas, paralisia facial, artrite com inchaço e dor nas articulações, especialmente nos joelhos e outras grandes articulações, tontura ou falta de ar e dor nos tendões, músculos, ossos e articulações.
As possíveis complicações a longo prazo da infecção pela febre maculosa incluem: paralisia, perda auditiva, danos aos vasos sanguíneos nos braços, pernas, dedos das mãos ou pés que podem levar à amputação e deficiência mental.
Conclusão |
Com exceção das apresentações iniciais da doença, que respondem bem aos antibióticos, muitos pacientes com a doença no estágio crônico não respondem a esquemas prolongados de antibióticos uma vez que não foi determinado se a doença é causada pela infecção ativa ou por uma resposta imunológica do hospedeiro a bactéria, o que sugere uma maior necessidade de pesquisas da doença e possíveis alternativas de tratamentos para estes casos, já que a doença poderá evoluir para complicações mais graves
Conclui-se a importância da vigilância epidemiológica no monitoramento de novos casos da doença com o objetivo de detectar possíveis focos dos vetores, visando medidas a fim de evitar surtos nas comunidades. Além de todas as medidas de prevenção e controle, ainda há necessidade de informar a população sobre os sintomas e conseqüências da doença no Brasil, pois a mesma pode apresentar sintomas em comum com outras doenças típicas, induzindo a possíveis falhas de diagnóstico devido ao desconhecimento por parte de alguns profissionais de saúde que prestam atendimento inicial ao paciente