Prática clínica

Inibidor da ECA ou BRA para o tratamento inicial da hipertensão?

Estudo demonstrou a comparação de eficácia e segurança entre as classes anti-hipertensivas.

Introdução

Os inibidores da enzima conversora da angiotensina (iECA) e os bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRAs) reduzema pressão arterial (PA) através da inibição do sistema renina-angiotensina e são recomendados como medicamentos de primeira linha no tratamento da hipertensão. No entanto, existem poucas comparações diretas na literatura.

Métodos

Chen e colaboradores (2021) compararam a eficácia e segurança dos inibidores da ECA versus BRA no tratamento de primeira linha da hipertensão. Implementaram um estudo de coorte retrospectivo e comparativo de novos usuários para estimar as taxas de risco utilizando técnicas para minimizar os fatores de confusão e viés. Incluíram todos os pacientes com hipertensão que iniciaram o tratamento anti-hipertensivo com um único agente, um inibidor da ECA ou BRA, entre 1996 e 2018, em oito bancos de dados dos Estados Unidos, Alemanha e Coreia do Sul.

No total, quatro desfechos primários foram estudados: infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e eventos cardiovasculares. Um total de 51 secundários foram analisados com foco em eventos adversos conhecidos ou suspeitos dos rótulos dos produtos, incluindo angioedema, tosse, hipotensão, síncope e anormalidades nos eletrólitos.

Resultados

Nos oito bancos de dados, 2.297.881 pacientes foram identificados como usuários que iniciaram tratamento com inibidores da ECA e 673.938 com BRAs. Em relação a primeira classe, a maioria dos pacientes utilizaram lisinopril (80%), seguido de ramipril e enalapril, enquanto os da segunda receberam losartana (45%), valsartana e olmesartana, respectivamente. 

Diferenças estatisticamente significantes não foram encontradas nos desfechos de infarto agudo do miocárdio (razão de risco [RR], 1,11 para ECA versus BRA [IC 95%, 0,95-1,32]), insuficiência cardíaca (RR, 1,03 [0,87-1,24]), acidente vascular cerebral (RR, 1,07 [0,91-1,27]) ou eventos cardiovasculares (RR, 1,06 [0,90–1,25]).

Nos desfechos secundários, pacientes que receberam iECA tiveram um risco elevado significativo de pancreatite aguda (RR 1,32 [1,04-1,70]), angioedema (RR 3,31, [2,55-4,51]), tosse (RR 1,32 [1,11-1,59], sangramento gastrointestinal (RR 1,18 [1,01-1,41]) e perda de peso anormal (RR 1,18 [1,01-1,41], bem como diminuição do risco de ganho de peso anormal (RR 0,84 [0,74-0,98]) em comparação com aqueles tratados com um BRA. Não houve nenhuma diferença estatisticamente significativa em qualquer um dos outros 45 desfechos secundários, incluindo deterioração da função renal e anormalidades eletrolíticas.

Conclusão

No estudo, os BRAs não diferiram estatisticamente na eficácia em comparação com os inibidores da ECA como tratamento de primeira linha para hipertensão, mas apresentaram um melhor perfil de segurança. Os resultados apoiaram a prescrição preferencial dos bloqueadores dos receptores de angiotensina em vez dos inibidores da enzima conversora da angiotensina ao iniciar o tratamento da hipertensão.